Os críticos de cinema, em sua essência, compreendem a fundo a arte e a técnica por trás das produções audiovisuais. Sua função é analisar cada detalhe, distinguindo o que eleva um filme ao patamar de obra-prima e o que o derruba. No entanto, em algumas ocasiões, a crítica especializada pode ser excessivamente dura com certas produções, focando no que lhes falta e perdendo de vista o valor intrínseco de entretenimento.
Afinal, as pontuações em agregadores como o Rotten Tomatoes, por mais úteis que sejam, raramente conseguem capturar a experiência real e a diversão que um filme pode proporcionar. Um exemplo notável de um longa-metragem que, apesar de não ser perfeito, merece crédito por suas inúmeras qualidades é A Lenda do Tesouro Perdido. Este filme de 2004 entrega uma aventura eletrizante e cheia de reviravoltas, impulsionada por uma narrativa acelerada e uma atuação marcante de Nicolas Cage no papel principal.
Contudo, apesar de tudo isso, A Lenda do Tesouro Perdido permanece em grande parte marginalizado pelos estudiosos de cinema. Para se ter uma ideia do quão subestimado ele é, o filme ostenta uma aprovação de apenas 46% no Rotten Tomatoes, com mais de 175 críticas contabilizadas – um número que certamente não faz justiça ao seu legado. Parte da crítica se prendeu às imprecisões históricas do filme, enquanto outros o acusaram de ser derivativo ou completamente improvável.
É verdade que essas observações não são de todo infundadas; os roteiristas Jim Kouf, Cormac Wibberley e Marianne Wibberley tomaram certas liberdades criativas e até inseriram algumas afirmações que não são factualmente corretas. No entanto, é crucial lembrar que este é um filme sobre roubar a Declaração de Independência para revelar um mapa invisível de tesouros secretos no verso. A obra é uma ficção descarada que mescla fantasia com contexto histórico e, portanto, deveria ter direito a uma certa dose de liberdade e licença poética.
Quanto às acusações de que A Lenda do Tesouro Perdido é derivativo, ele de fato não é totalmente original. É inegável que a narrativa se inspira amplamente nos filmes de Indiana Jones. Dito isso, vivemos em uma era de remakes, reboots e sequências, onde ideias totalmente originais são escassas devido à vasta quantidade de conteúdo já criado.
Mesmo assim, A Lenda do Tesouro Perdido consegue trilhar um caminho que é distinto o suficiente de suas inspirações para se sustentar por conta própria, oferecendo uma experiência única dentro do gênero de aventura. A queixa de que o filme é “irrealista” provavelmente se resume a uma questão de preferência pessoal. Sim, A Lenda do Tesouro Perdido é totalmente improvável, mas é um filme projetado com o propósito principal de ajudar o espectador a escapar de sua realidade.
E, nesse conceito, a produção é notavelmente bem-sucedida. Ele transporta aqueles de nós dispostos a suspender a descrença para um lugar fantástico onde nada é o que parece. Essa abordagem pode não resultar em “arte refinada” no sentido tradicional, mas há um lugar vital para filmes como este no panorama cinematográfico.
O entretenimento “pipoca” possui um valor inerente, independentemente do que alguns possam dizer. O cinema de escapismo nos permite desconectar da nossa realidade de forma segura e saudável. Embora possa não ser tão artisticamente elaborado quanto produções mais aclamadas, nós, como humanos, precisamos da chance de escapar ocasionalmente.
E filmes como A Lenda do Tesouro Perdido nos proporcionam um espaço seguro e empolgante para fazer exatamente isso. Agora que defendemos a importância do cinema escapista, vamos falar um pouco mais sobre o que o filme acerta em cheio – e acreditamos que ele acerta em muitas coisas. A Lenda do Tesouro Perdido combina habilmente tropos de ação com elementos de fantasia histórica, levando os espectadores a uma aventura selvagem e imprevisível.
O filme evoca uma sensação de maravilha à medida que os personagens principais navegam por um cenário fantástico após o outro. O ator principal, Nicolas Cage, está em excelente forma aqui, entregando uma performance relativamente contida, mantendo-a mais “pé no chão” do que o habitual. Seu personagem, Benjamin Franklin Gates, possui uma inocência quase infantil que ajuda a tornar a natureza extravagante do enredo mais acessível.
Sua convicção inabalável dá ao público permissão para embarcar na natureza preposterous da trama. O ritmo implacável do filme também é muito eficaz; a ação começa cedo e quase nunca cede, uma decisão inteligente que mantém o público engajado. Os roteiristas, junto com o diretor Jon Turteltaub, entenderam que os acontecimentos são bastante absurdos, mas como a ação nunca diminui, eles não nos dão muito tempo para questionar a plausibilidade do que vemos.
Em suma, A Lenda do Tesouro Perdido é uma aventura divertida e farsesca que, embora possa não acertar em todos os pontos, é inegavelmente uma fonte de entretenimento cativante. Embora o cinema de escapismo talvez não seja considerado “alta arte”, ele tem seu lugar fundamental e serve um propósito valioso, proporcionando diversão e uma bem-vinda fuga da realidade.