A era de ouro das séries Marvel no Disney+ começou com WandaVision (2021). A produção, que conquistou 92% de aprovação no Rotten Tomatoes, representou uma aposta ousada: séries longas e conectadas aos filmes, dando destaque a personagens que ainda não tinham protagonizado seus próprios longas, como Wanda. O sucesso inicial gerou expectativas elevadas para os projetos subsequentes.

Loki (2021), também aclamado pela crítica e pelo público, seguiu a trilha vitoriosa, apresentando novos personagens e conceitos ao Universo Cinematográfico Marvel (UCM) com cenários deslumbrantes e direção impecável. Parecia o começo de uma era de ouro.
A Inundação de Conteúdo e a Mudança de Rumos
A chegada de Bob Chapek à presidência da Disney, em meio à pandemia de COVID-19, intensificou a estratégia de produção de conteúdo para o Disney+. A integração com o Hulu e o anúncio de diversas séries de super-heróis visavam alimentar a plataforma recém-lançada, que precisava de conteúdo original após o sucesso de The Mandalorian. A ideia era simples: oferecer mais do que o público já gostava, replicando o sucesso dos filmes da Marvel em formato de séries.
No entanto, uma tendência preocupante se estabeleceu. Falcão e o Soldado Invernal (2021), por exemplo, teve audiência muito inferior a WandaVision. Séries seguintes, apesar de contarem com elenco de estrelas como Oscar Isaac e Ethan Hawke (Moon Knight), apresentaram personagens menos conhecidos do grande público, como Moon Knight, Ms. Marvel, She-Hulk, Werewolf by Night, Agatha Harkness, Echo e Ironheart. Lançar personagens de segundo ou terceiro escalão para um público amplo se mostrou um desafio maior do que a estratégia previa.
O Problema da Conectividade e a Perda do Público Geral
Embora algumas séries, como Moon Knight, Hawkeye e a segunda temporada de Loki, tenham se destacado, muitas não conseguiram alcançar o mesmo impacto. O problema reside na estratégia de produção. Os filmes da Marvel atraíam um público vasto e diversificado, mas o mesmo não se aplicava às séries. O simples logotipo da Marvel Studios não garantia que um público mais amplo assistiria a Echo ou Invasão Secreta.
O Disney+, por sua vez, nunca alcançou a penetração cultural da Netflix, onde a grande maioria dos lares americanos possuíam uma assinatura e a utilizavam regularmente. Isso explica, em parte, o sucesso de séries como Demolidor e Jessica Jones na Netflix. O retorno do Demolidor ao Disney+, com classificação indicativa TV-MA, destaca-se negativamente no catálogo infantil da plataforma, mesmo considerando o conteúdo do Hulu. Mesmo com a força da marca Disney, Demolidor: Nascido de Novo não atingiu as expectativas de audiência e de qualidade.
A Equação: Quantidade x Qualidade
O problema da Marvel no Disney+ se resume a uma estratégia de “quantidade sobre qualidade”, que a empresa busca corrigir. Lançar séries como pré-requisito para entender os filmes, como ocorreu em Capitã Marvel 2 (2023), também se mostrou um erro. A estratégia de introduzir personagens pouco conhecidos nas séries e usá-los nos filmes dificultou a compreensão e o engajamento do público.
O Futuro do UCM na Tela Pequena
Apesar do reconhecimento dos erros, a Marvel parece comprometida em concluir as séries já iniciadas. Ironheart teve recepção morna, Demolidor: Nascido de Novo, apesar de criticada, terá uma segunda temporada. Personagens e tramas de séries como Agatha: Coven of Chaos, Echo e She-Hulk permanecem sem resolução, gerando incertezas sobre o futuro do UCM. Com Wonder Man à vista, resta esperar que Bob Iger consiga reorientar a estratégia, valorizando os filmes e utilizando as séries com mais parcimônia. A boa vontade do público está se esgotando, e a responsabilidade por essa fase mista do UCM pode recair sobre Kevin Feige.